Estudos inéditos no Brasil avaliam o uso do papelão para sustentar paredes e substituir materiais tradicionais na construção civil. Uma “casinha” experimental, para testes de impermeabilização, vem resistindo muito bem a chuvas e umidade.
O uso do papelão na construção civil pode representar alternativa de maior rapidez na obra, num processo mais leve e salubre. Pesquisas com a utilização do produto estão sendo realizadas no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. De acordo com a arquiteta e doutoranda da EESC, Gerusa Salado, estudos com o material já vêm sendo desenvolvidos no Japão. “No Brasil esse tipo de pesquisa ainda é inédita”, afirma.
A escolha do material levou em conta critérios como reciclagem e produção de celulose e papelão, uma matéria-prima abundante no Brasil. “O papelão, além do fato de poder ser reciclado várias vezes, não precisa de um grande processo de transformação para a reciclagem. Basta triturá-lo e misturar com água”, descreve Gerusa.
Para testar a eficácia do uso do papelão na construção, os pesquisadores construíram uma célula-teste. Esta “construção experimental”, como foi denominada, possui o formato de um cubo medindo cerca de 3x3x3 metros, equivalente a um volume de 27 metros cúbicos (foto acima). Em uma de suas paredes há uma janela. Na outra, uma porta. Gerusa explica que as outras duas paredes são “cegas”, sem qualquer tipo de abertura. Inicialmente, a pesquisadora desenvolveu na célula-teste as vedações, objeto principal da pesquisa.
No seu trabalho, Gerusa conseguiu construir uma parede de 1m linear, com tubos de 10cm de diâmetro, sem resina ou impermeabilizantes. A estrutura, segundo ela, resistiu até cinco toneladas. Utilizando a resina impermeabilizante, a mesma estrutura teve a resistência aumentada, suportando seis toneladas. Esta mesma resina torna o material resistente às chuvas e à umidade. “Nossa construção experimental (célula-teste) tem resistido a todas as fortes chuvas desses últimos tempos”, conta.
Em relação ao fogo, ela alerta que o material precisa ser avaliado em relação ao tempo que o papelão pode levar para ser incinerado e se o fogo pode se extinguir sozinho. Os testes seguem normas técnicas nacionais e internacionais. “Sabemos que todos os materiais de construção são passíveis ao fogo, mas neste caso, precisamos averiguar se o tempo de propagação de um incêndio acidental possibilita que os usuários desocupem a edificação”, confirma Gerusa.
“Já é certeza que a estrutura poderá ser aplicada em edificações térreas”. O intuito das investigações é que a estrutura possa ser utilizada em habitações, além de outros tipos de construções como edifícios, como alternativa a materiais de alvenaria.
Vantagens
Entre as vantagens do papelão, a arquiteta destaca o uso de uma fundação apenas superficial e não subterrânea, pois a construção é leve. A construção com este material é bem mais rápida do que os métodos convencionais porque é feita num sistema pré-fabricado. “Os tubos de papelão são ocos, facilitando a instalação dos sistemas hidráulicos e elétricos, não havendo necessidade de quebrar paredes”.
O custo de uma parede de papelão em relação à de alvenaria convencional, por enquanto, é proporcional, mas Gerusa lembra de fatores que podem torná-lo concorrente à alvenaria, como impostos adequados a construção civil, produção não só dos tubos, mas também de módulos pré-fabricados em larga escala.
ENTENDA A NOTÍCIA
Os pesquisadores de arquitetura e construção civil no Brasil tentam aproximar os discursos engajados de sustentabilidade com a prática científica, no caso do papelão como material principal na estrutura de uma casa de verdade. Não apenas como experiência pontual, artesanal, isolada, mas como uma ideia possível e que ganhe utilização em escala industrial.
Sandra O. Monteiro – DA AGÊNCIA USP
sandra.monteiro@usp.br
Jornalista – Sandra Nagano – nagano@opovo.com.br
fonte: O Povo
Ano da Publicação: | 2011 |
Fonte: | http://www.setorreciclagem.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1210 |
Link/URL: | http://www.setorreciclagem.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1210 |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
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