Radiociclagem

Radiografias velhas. A grande maioria das pessoas tem pelo menos uma dessas chapas de acetato em casa. Porém, poucos sabem que elas fazem parte de um mercado bastante competitivo.



Para se ter uma idéia do volume que esse tipo de ‘‘resíduo‘‘ dos serviços de saúde representa na sociedade, basta dizer que um único hospital da Baixada Santista gera, todo mês, mais de cinco mil desses exames. Inclua nesse universo todas as unidades de saúde, públicas e privadas da região, e é possível imaginar uma parte do bolo.



A outra fica por conta das indústrias, pois elas também utilizam esse artifício, tal como nas gamagrafias, técnica usada para uma melhor análise de processos de soldagem, por exemplo.



Todas essas chapas poderiam ir para o lixo. Mas seria como jogar dinheiro pela janela. Cada quilo de radiografias, equivalente a cerca de 40 exames, vale hoje cerca de R$ 2,50 (sem o custo de frete) no mercado de reciclagem. Sim, as chapas radiográficas são recicláveis e reaproveitáveis. Tudo graças à prata contida nelas.



Prata

Esse metal é parte importante no processo de fixação das imagens. Nas indústrias recicladoras, ele é retirado da chapa e dos produtos químicos usados na revelação. Em seguida, é revendido para diversos fins.



Graças aos métodos atuais, é possível obter um grau de pureza final de prata reciclada da ordem de 99,9%. Isso diminui a necessidade de importação do minério, do qual o Brasil possui uma reserva estimada em 0,2% do mercado mundial.



“Já o acetato, após a descontaminação, é aproveitado em artigos de papelaria e artesanato”, explica Márcio Costa Santana, representante de uma usina de reciclagem em São Paulo (não existem similares na Baixada Santista).



Nos próximos dias, só essa empresa se prepara para retirar mais de 40 toneladas de exames velhos de um arquivo hospitalar em São Paulo. Essa carga, a preços de mercado, está avaliada em R$ 100 mil. O dinheiro fica com o fornecedor, no caso o hospital, e a natureza se livra de uma fonte de contaminação.



E o consumidor, o que fazer? “Eu tenho várias dessas chapas em casa e não gostaria de simplesmente jogar no lixo, não acho isso correto. Porém, já levei essa dúvida para outras pessoas, ou seja, o que fazer com esse material, e nunca souberam me responder”, afirma a dona-de-casa Odete Gonçalves Sneges.



Brecha na lei

Para Albert C. Reuben, dono de outra recicladora e há 25 anos no mercado, a alternativa para dona Odete e outros bem que poderia vir da nova norma da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a RDC 306, que entra em vigor em maio deste ano.



Esse novo conjunto de regras disciplina o descarte de todos os resíduos gerados pelos serviços de saúde – incluindo os produtos químicos usados na revelação dos exames.



De acordo com Reuben, as chapas também poderiam fazer parte desses resíduos. Se assim fosse, a partir de maio todos as clínicas, hospitais, farmácias ou mesmo instituições de pesquisa médica se transformariam, automaticamente, em postos de coleta de chapas radiológicas usadas.



O empresário fundamenta essa sua visão da norma usando como comparação o caso das pilhas e baterias. “Quem fabrica, importa ou comercializa é obrigado a recolher e destinar corretamente esse material. O mesmo raciocínio serve para as radiografias”, afirma.



Porém, não é assim que a Anvisa vê a questão. Para a Agência, as chapas, mesmo tendo resíduos tóxicos e sendo fabricadas com matéria plástica oriunda do petróleo, não são consideradas resíduos do setor saúde.



Então, como é que fica a ‘‘dona‘‘ Odete? Até que os legisladores percebam essa lacuna, a única saída correta é continuar armazenando esse material. A não ser que você se mude para Portugal. Lá, radiografias velhas se transformaram em cidadania.



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O Compromisso Empresarial par

Ano da Publicação: 2005
Fonte: www.reciclaveis.com.br
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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