Reciclagem de casca de coco verde

Casca do coco verde vira pó e tem chance de bons negócios

Lisiane Mossmann de Fortaleza
lmossman@gazetamercantil.com.br

O descarte da casca do coco verde, também chamado de coco anão, um problema para o meio ambiente pelo volume de lixo acumulado, pode virar um bom negócio. Os primeiros resultados de um estudo da Embrapa Tropical, com previsão de ser concluído no próximo ano, já garantem a transformação da casca em pó em alternativa ecologicamente correta e adequada a um substrato agrícola. O pó do coco usado pela agricultura no mercado internacional chega a custar US$ 250 a tonelada. Só em Fortaleza, o consumo de coco verde varia entre 700 mil e 1 milhão de unidades mensais, e as cascas, que representam 85% do fruto, vão para o lixo, levando 8 anos para se decompor.
Uma das metas da pesquisa é propor o seu uso adequado para terminar com as restrições de reaproveitamento, por apresentar muita umidade e não ter características tão atraentes quanto a do coco maduro – usada, por exemplo, na produção dos estofamentos de carros.
A exemplo do coco maduro, a casca do tipo anão pode ser triturada, aproveitando o pó, rico em potássio – nutriente necessário para o desenvolvimento do coqueiro – no solo para reter água e como composto orgânico. Ele também pode se transformar em alternativa de substituição da tursa (material orgânico fossilizado), que com a sua exploração vem afetando o ecossistema.
O Ceará, hoje, é o terceiro pólo produtor de coco anão do Brasil, com 5 mil hectares plantados. O primeiro é o Espírito Santo (15 mil hectares) e, empatados no segundo lugar, os pólos de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), que têm 12 mil hectares de cultivo. O boom na produção de coco anão aconteceu de 1997 a 1999. Em 1996, os produtores cearenses cultivavam somente 2,5 mil hectares. Agora, se forem contabilizadas as plantações de coco gigante e híbrido, o Ceará conta com 48 mil hectares de cultivo
As rejeitadas fibras já estão sendo testadas nas culturas hidropônicas. Elas vão poder substituir a verniculita, que armazena a semente da planta. Outra utilidade, explica Eliseu Souto, coordenador do Grupo do Coco do Ceará, pode ser no coroamento dos coqueiros (capina). Os agricultores precisam de quatro a cinco coroamentos por ano, mas a colocação de fibras ao redor da planta não deixaria o mato crescer, eliminando os custos, que podem alcançar R$ 10 mil por hectare, durante o ciclo da cultura.
As vantagens, segundo Eliseu Souto, são a diminuição de gastos, com economia de água e energia na irrigação. “A previsão é de que os custos reduzam em 30%”, diz. Também existe a possibilidade de aplicar a tecnologia – conhecida na Europa – na transformação da casca do coco em carvão ativado, que rende cerca de US$ 3,5 mil a tonelada.
Morsyleide de Freitas, pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical, diz que ainda é necessário ver como otimizar a produção do pó da casca, para não alterar as características físico-químicas do substrato. Outro entrave é o teor de sal encontrado, que pode afetar o cultivo de hortaliças, flores e fruteiras e de outros que serão testados este ano.
A cearense Ducôco, de Itapipoca, a 117 quilômetros de Fortaleza, uma das parceiras da pesquisa, vem investindo R$ 60 mil no estudo desde 1999, principalmente na compra de equipamentos. O diretor-comercial Mário Vital diz que a empresa aceitou investir para encontrar soluções de como usar as cascas dos 500 mil frutos que são processados mensalmente para a industrialização de água de coco em embalagens de 200ml. “Além disso, o pó vai gerar outra fonte de receita e poderá ser usado como composto orgânico nas plantações mantidas pelo grupo”, diz Vital. A empresa está no mercado desde 1986. Além de água de coco, produz gelatina, leite de coco e coco ralado. Os dois últimos produtos são responsáveis por 80% do faturamento de cerca de R$ 90 milhões alcançado no ano passado. O grupo mantém uma unidade em São Paulo.

Ano da Publicação: 2001
Fonte: Gazeta Mercantil
Autor: Paulo Jardim
Email do Autor: pjardim.trp@terra.com.br

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