O que fazer com todo o lixo produzido por nós? Esse é um dos grandes dilemas enfrentados no mundo todo. Como sabemos, em muitos países incluindo o Brasil o lixo é desepejado em terrenos abertos – os chamados landfills ou lixões – e todos, simplesmente, esquecem o problema.
Por isso, a reciclagem é uma das grandes soluções encontradas nas últimas décadas. Mas há mais a se fazer. Pesquisas comprovam que cerca de 30% do lixo doméstico, produzido nas casas, pode ser reutilizado e a reciclagem desses resíduos pode ser realizada de uma maneira muito simples, usando, como exemplo, exatamente o que acontece na natureza, ou seja, a decomposição natural.
No caso do lixo orgânico, o processo de decomposição depende basicamente de umidade e calor. Restos de plantas e comida, deixados em lixões ao ar livre, se decompõem espontaneamente, após algum tempo.
Partindo desse princípio, há 20 anos, uma empresa suíça a Kompogas – iniciou estudos com lixo orgânico, principalmente aquele proveniente de jardins e cozinhas. Hoje, ela é uma das quatro maiores empresas do mundo nesse setor e transforma o green waste (lixo dos jardins) e o biowaste (restos de verduras, frutas e alimentos) em novos produtos. Para isso, utiliza um reator de fermentação, que trabalha através de um processo anaeróbico (com ausência de oxigênio). É um processo biológico, que ocorre também na natureza, só que, aqui, o processo acontece de forma controlada e intensiva, afirma Peter Knecht, responsável pelas licenças internacionais da empresa.
Na Suíça, existem dez fábricas Kompogas em funcionamento, cinco somente na região de Zurique, a maior cidade do país. Elas recebem o lixo orgânico vindo de comunidades municipais, hotéis, supermercados e redes de lanchonetes. Afinal, todos esses clientes são responsáveis pelo destino do lixo produzido por eles. Para essas companhias e prefeituras fica mais barato reciclar o lixo orgânico do que simplesmente jogá-lo no lixo. Lá, os departamentos municipais de coleta só recolhem o lixo – seja domiciliar ou industrial – que estiver dentro dos sacos oficiais das cidades. Mas, para estimular a reciclagem, esses sacos são bastante caros. Para se desfazer de cerca de uma tonelada de lixo na maneira tradicional, na região de Zurique, por exemplo, uma empresa gastaria cerca de R$ 960. Mas, para ter esse mesmo lixo entregue e reciclado numa fábrica Kompogas, o custo é de R$ 240. Não faz o menor sentido queimar o lixo orgânico. Cada tipo de lixo tem uma maneira apropriada para ser tratado, diz Knecht.
Outra grande vantagem da reciclagem verde está na diminuição da emissão de gás CO2 na atmosfera, já que o método de incineração não consegue controlar a emissão desses gases. Para cada tonelada de lixo orgânico reciclado nas plantas da Kompogas, uma tonelada de CO2 deixa de ser emitida no meio ambiente. E o melhor: a fermentação é mais barata do que a incineração.
Mas como funciona uma fábrica desse tipo? O processo é bastante fácil de entender. Primeiro, os clientes entregam o lixo orgânico a ser reciclado. Os caminhões que o transportam chegam na planta e são pesados numa balança. Paga-se pelo peso kg/tonelada que será processado. Em seguida, os resíduos são despejados e passam por uma triagem visual e um detector de metais (imã). Caso haja pedras ou utensílios deixados por engano no meio desse lixo (tesouras de poda, pás, etc), eles são removidos para não danificar o reator. Na sequência, essa massa de lixo orgânico é triturada numa câmara intermediária até atingir a consistência ideal. O próximo passo passar o lixo pelo reator de fermentação. Ali, ele permanece durante duas semanas, a uma temperatura de 55º C. A única diferença em relação ao que acontece na natureza é que adicionamos mais bactérias para acelerar a processo, revela o executivo da Kompogas.
Da fermentação desses resíduos surgem três novos produtos:
– um sólido (o composto)
– um líquido (o fertilizante)
– e, por último, um gasoso (uma nova forma de energia limpa). Esta energia – ou gás – pode ser convertida em combustível para veículos, em gás natural para a rede local (se estiver disponível) ou então, no chamado CHP (combined heat and power), uma combinação de energia elétrica e aquecimento.
Ano da Publicação: | 2011 |
Fonte: | Planeta Sustentável |
Link/URL: | http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/lixo/conteudo_393510.shtml |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |