Localizada na Favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, a ONG Florescer fica numa área onde predominam ruelas estreitas, sem placas. Ali está a segunda maior comunidade carente de São Paulo, com cerca de 85 mil habitantes. Só perde para Heliópolis, na mesma região, cuja população é de 120 mil.
Em junho, a Florescer comemora 19 anos de existência. O projeto nasceu na cidade de São Manuel, interior paulista, pelas mãos de Nadia R. Bacchi – mãe da modelo e atriz Karina Bacchi -, mas se firmou mesmo na capital. Como madrinha da ONG, a filha Karina divulga o trabalho que hoje se tornou a principal fonte de renda da entidade, o Recicla Jeans. O projeto confecciona roupas femininas a partir da reciclagem de jeans usados e descartados, de resíduos têxteis, como retalhos e peças não aprovadas pelo controle de qualidade.
Vinte costureiras moradoras de Paraisópolis são as responsáveis pela confecção das peças, que são vendidas no Shopping D, zona norte, e agora também no espaço do badalado cabeleireiro Mauro Freire, nos Jardins. Ambas as vendas são formas de apoio e reconhecimento aos anos de atuação da ONG (www.ongflorescer.com.br), que já conquistou prêmios como o Quality International e Revelação Nacional.
A criação de casacos, vestidos, sacolas, bolsas, pufes, broches na forma de flor, brindes para empresas e muitos outros acessórios ficam por conta da própria Nadia, que já foi dona de uma marca de moda feminina. A partir da experiência no mundo da moda, percebeu como esse ramo seria uma boa saída para alavancar fundos para a instituição.
Uso do jeans
“Para arrecadar dinheiro sem precisar passar o chapéu a todo momento, decidi apostar na moda”, lembra Nadia, que hoje está com 61 anos e é formada em Biologia. “Foi quando me dei conta de como esse projeto era amplo, uma vez que gera emprego e renda para mulheres da comunidade e também tem uma preocupação ecológica, trabalhando com reciclagem. Pensei no jeans por ser usado no mundo todo, e também por ser resistente e ter longa vida”.
Mas não é porque as peças são fabricadas por uma ONG que os preços são populares. Variam de R$ 120,00 (uma bolsa) a R$ 260,00 (uma jaqueta com patchwork). Há até vestido de noiva bem fashion, confeccionado com retalhos, bordados e apliques, que pode chegar a R$ 6 mil.
Outra parceira do projeto Recicla Jeans é a Restaura Jeans, empresa que também oferece serviços de conserto e customização. Na ONG, é a responsável pela lavagem das peças produzidas. Apesar de apoios importantes, a Florescer vive correndo atrás de patrocinadores. A única empresa que mantinha doações fixas acabou de suspender o suporte que dava, alegando problemas financeiros decorrentes da crise econômica atual.
Os valores arrecadados com a venda das peças e com os eventos que a ONG promove durante o ano – entre os quais, a Festa Junina no Jóquei, que reúne famosos para dançar quadrilha – não cobrem os gastos fixos e os serviços oferecidos aos moradores de Paraisópolis. Além das duas oficinas de costura, a ONG oferece cursos e oficinas para 800 crianças e jovens de baixa renda, entre 7 e 16 anos. Eles têm aulas de reforço escolar, inglês, teatro, música e computação.
“Se não fosse a colaboração da família, seria muito difícil”, confessa a fundadora Nadia. Esse trabalho é sua grande missão e representa também alguma esperança para os moradores da favela, considerada este ano a “primeira” na capital em quantidade de drogas apreendidas, perdendo apenas para a de Heliópolis.
Fonte: Ciça Vallerio (O Estado de S.Paulo)
Ano da Publicação: | 2009 |
Fonte: | http://www.reciclaveis.com.br/noticias/00904/0090428social.htm |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |