Saco é um saco… e esse discurso também

Um monte de sacolas plásticas são distribuídas sem critério para a população. O fabricante não se responsabiliza, o comerciante não se responsabiliza, o usuário não se responsabiliza. Ótimo então que exista uma campanha de redução do uso. Só que passam a idéia que a culpa é das sacolas e não de quem as usa.
Vilanizando as sacolas tiramos o foco de quem é o responsável – quem vende e quem compra – e aí… fica mais fácil inventar soluções mágicas.

Criaram duas: as sacolas retornáveis e as de plástico oxidegradável. Mas elas não resistem a um olhar criterioso.

1ª – Todo mundo (mesmo) usa sacolinhas de supermercado para jogar seu lixo fora, então sacolas de pano vão fazer com que as pessoas tenham que adquirir sacos de lixo para essa função. Ótimo para a indústria, que vai lucrar mais. A única vantagem – sacos de lixo tem uma destinação certa e não iriam ficar voando por aí como as sacolinhas – não se justifica pelo curtíssimo ciclo de vida dos sacos de lixo.

2ª – Sacolas com aditivos oxidegradáveis desagregam a cadeia dos polímeros em um tempo curto, garantindo o produto vai sumir de nossas vistas. Excelente para as prefeituras, que resolvem o problema sem esforço.
Existe uma discussão sem fim sobre estas sacolas serem biodegradáveis ou um veneno invisível. O fato é que esse aditivo promove a preguiça das autoridades e a falta de consciência das pessoas – pode consumir a vontade, ela some no meio ambiente.

Se não existe mágica, voltemos a atenção para as sacolinhas atuais.
Elas são úteis, são reutilizáveis e são recicláveis.
Não foram feitas para serem jogadas nas calçadas, na beira de estradas ou na praia.

Para quem diz que as sacolinhas não são recicláveis, dois exemplos:
– Esta extrusora (NAG – SR 2010/50) permite introduzir as sacolas de plástico limpas diretamente em um funil e obter o produto reciclado na outra ponta, seja em grãos para usos diversos ou em forma de um balão, que deixa o material reciclado pronto para produzir novas sacolas (leia mais aqui).

– Uma iniciativa de um engenheiro químico, Diego Rafael Bayer, transforma 200 sacolas de supermercado em um quilo de tábua ecológica (leia mais aqui).

Sacolas, como a absoluta maioria das embalagens, são recicláveis, mas misturada a restos de alimentos, entre outros resíduos, se tornam pouco atraentes para os recicladores, que precisam de materiais com mínimas condições para produzir uma matéria-prima de qualidade.

Se quisermos resolver o problema das sacolinhas, precisamos pensar no fim de seu ciclo de vida, que são os centros de compostagem. Enquanto restos de alimentos e sacolinhas forem enviadas para os lixões e aterros sanitários, teremos um material reciclável desperdiçado, poluindo não só pela sua presença, mas por acondicionar alimentos que se estragam e se transformam em chorume.

Sacolas de supermercados feitas de amido de batata ou de mandioca (veja um monte aqui) são viáveis e perfeitas para virar sacos de lixo orgânico, pois em uma usina de compostagem, elas são trituradas e se transformam em adubo.

E as sacolinhas de polietileno poderiam continuar a ser reutilizadas até o fim do seu ciclo de vida, que é embalar os recicláveis para a coleta seletiva.

Como não existe solução de curto prazo, precisamos mesmo é investir um bom tempo em educação, consciência e fazer muita pressão política.

Se formos educados, não vamos descartar incorretamente as sacolas.
Se formos conscientes, vamos reduzir o consumo.
E se houver vontade política, acaba o pensamento de curto prazo que está nos enfiando em uma montanha de lixo.

Ricardo Ricchini – editor do portal Setor Reciclagem

Ano da Publicação: 2009
Fonte: http://www.setorreciclagem.com.br/modules.php?name=News&new_topic=25
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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