Sacolinha oxibio ganha espaço no mercado Material se degrada em apenas três meses, mas tecnologia é cercada de polêmica
Lojas bastante conhecidas, como C&A, Riachuelo, Pernambucanas e Kopenhagen, passaram a adotar as sacolas oxibiodegradáveis que se degradam mais rapidamente que as comuns, principalmente quando expostas ao sol.
Essas controversas sacolas são feitas a partir de combustíveis fósseis, como as convencionais o que contribui para o aquecimento global , mas recebem um aditivo que agiliza sua decomposição.
De acordo com Eduardo Van Roost, diretor da RES Brasil, empresa que produz o aditivo, as oxibiodegradáveis já tomam conta de cerca de 18% do mercado de sacolas e sacos. E, no mundo, são produzidas em um total de 92 países e encontradas em muitos outros.
A sacola pode se desfazer em três meses se estiver exposta a sol e calor ou em 18 meses se estiver guardada dentro de casa. As comuns levam dezenas de anos para desaparecer.
As empresas explicam nas próprias sacolas o motivo que as levou a adquirir as oxibiodegradáveis.
A Saraiva, por exemplo, escreve que a sacola é ecologicamente correta e que a empresa, dessa forma, ajuda a preservar o meio ambiente.
A Fototica diz em seu saco plástico que tem consciência da importância da preservação do meio ambiente. Também afirma que o que antes levava 300 anos para se decompor agora passa a acontecer em bem menos tempo.
Apesar do sucesso no mercado, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) não têm grande simpatia pelas sacolas oxibiodegradáveis.
A Plastivida, entidade que representa a cadeia produtiva do plástico, também é contra. A polêmica surge toda vez que aparece um produto novo. Mas o sucesso dos oxibiodegradáveis se deve à perseverança nos testes. Acho que não existe um material tão testado. E eles não mostram toxicidade do produto, diz Van Roost.
Ele ressalta que o aditivo está em conformidade com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e hoje é usado também em embalagens de alimentos, como os pães do grupo Bimbo (que inclui as marcas Pullman e Nutrella).
Segundo a empresa, os plásticos e aditivos desaparecem por completo e sobram da degradação apenas água, pequena quantidade de CO2 e biomassa. Porém, assim como ocorre em relação aos plásticos convencionais, se houver tintas ou pigmentos nocivos ao meio ambiente eles vão permanecer na natureza.
Fragmentação
A campanha do ministério Saco é um Saco diz algo diferente: que o plástico com aditivo apenas se fragmenta em pedaços menores, muito mais difíceis de conter que um saco plástico inteiro. E podem, assim, acabar se depositando em rios, ingeridos por peixes e outros animais. Francisco de Assis Esmeraldo, presidente da Plastivida, chama o material de engodo. As pessoas pensam que a sacola sumiu. Mas, na verdade, ela continua na natureza, fragmentada e espalhada. É uma poluição que não te agride, porque você não enxerga, mas é muito mais grave.
A RES Brasil afirma que interesses econômicos motivam as críticas às sacolas oxibiodegradáveis. Mas Esmeraldo diz que, como as sacolas usam praticamente o mesmo material (com exceção do aditivo), para o setor em si a sacola não traz prejuízo. Somos contra porque sabemos que, daqui a alguns anos, o problema ambiental vai aparecer. A Plastivida considera que um benefício real ao ambiente virá somente com a redução do uso de sacolas. As campanhas de conscientização dos consumidores têm dado resultados: em 2007 foram usadas 17,9 bilhões de sacolas. No ano passado, o número caiu para 15 bilhões. Nossa expectativa é chegar aos 14 bilhões neste ano, diz Esmeraldo.
Clientes elogiam lojas que usam material. Secretário adjunto de Meio Ambiente, porém, teme que o uso dessas sacolas deseduque a população.
A gerente de marketing da Riachuelo, Marcella Martins de Carvalho, afirma que a adesão às sacolas oxibiodegradáveis ocorreu em 2008 em 100% das lojas da marca. Fomos a primeira rede de varejo a fazer isso. A maior preocupação foi ambiental.
Segundo ela, a reação dos clientes desde então tem sido positiva. Recebemos muitos e-mails elogiando a iniciativa. O mais curioso foi um cliente que levou a sacola para uma obra, testou para ver se realmente era oxibiodegradável e mandou uma mensagem elogiando a qualidade do produto, diz.
De acordo com Marcella, o preço não é mais elevado que o da sacola convencional. Conseguimos uma boa negociação por causa do alto volume e o custo é equivalente aos das sacolas usadas anteriormente, explica.
O Walmart chegou a fazer uma experiência-piloto e quase adquiriu as oxibiodegradáveis, mas desistiu. Segundo Daniela De Fiori, responsável pela área de sustentabilidade da empresa, seria prematuro abraçá-las enquanto houver dúvidas sobre elas. O Walmart optou por dar ao cliente desconto de R$ 0,03 por sacola não usada e lançou um caixa preferencial para os consumidores que não as utilizarem em suas compras. A empresa tem como meta reduzir o uso de sacolas em 50% até 2013.
Enchentes
A energia gasta para produzir a sacola oxibiodegradável e a convencional é praticamente a mesma. E o receio de Casemiro Tércio de Carvalho, secretário estadual adjunto de Meio Ambiente, é de que essas sacolas passem a mensagem de que não há problemas em abusar do uso do plástico ou de jogá-lo no ambiente, já que ele se degrada.
Isso porque a chuva pode vir antes de o material degradar, provocar um entupimento de bueiros e enchentes.
Para a gente não interessa qual é a tecnologia que a pessoa vai usar. A questão é educar o consumidor e não causar um desserviço ambiental. Nosso foco na secretaria, por exemplo, é difundir o uso das sacolas duráveis, que podem ser de vários materiais como pano, juta, afirma Carvalho.
Fonte Afra Balazina para o jornal O Estado de São Paulo de 15 de setembro de 2010
Ano da Publicação: | 2011 |
Fonte: | http://www.funverde.org.br/blog/archives/7519 |
Link/URL: | http://www.funverde.org.br/blog/archives/7519 |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |