Todos os dias as lojas e shoppings Centers vendem milhares de toneladas de roupas por todo o país. Dependendo do tipo de consumidor, essas roupas serão usadas durante dias, meses ou anos. Em geral, quanto maior o poder aquisitivo da população, mais rapidamente as roupas novas se transformam em resíduos que precisam de uma destinação final ambientalmente adequada.
Apesar de ainda ser inexistente no Brasil, o Sistema de coleta de roupas e calçados usados na Alemanha é o mesmo aplicado na maiorias dos países desenvolvidos e será explicado aqui como exemplo. Seguindo o princípio do reaproveitamento e reciclagem de resíduos, as roupas e calçados usados devem ter um sistema diferenciado de coleta para conservá-los limpos de impurezas como resíduos orgânicos ou qualquer outro tipo de resíduos que altere suas características físicas.
A coleta de roupas usadas na Alemanha acontece em cada município do país na forma de Ponto de Entrega Voluntária PEV que pode ter outros resíduos coletados ou não. Depois de coletadas, as roupas seguem para centros de triagem onde serão separadas manualmente em mais de 250 categorias.
Ponto de Entrega Voluntária de Roupas e Calçados na Alemanha (Foto: Wikipédia)
Ponto de Entrega Voluntária de Roupas e Calçados na Alemanha (Foto: Wikipédia)
Em média os resíduos são compostos de 5% de calçados, 35% de roupas que ainda podem ser reutilizadas classificadas em diferentes níveis de qualidade, 25% seguem para a reciclagem e 15% servem como material de limpeza de superfícies ou são qualificadas como rejeitos podendo ser encaminhadas para usinas de incineração por exemplo. (Badische Zeitung)
Composição média dos resíduos de roupas e calcados na Alemanha (Fonte:
Composição média dos resíduos de roupas e calcados na Alemanha (Fonte: Fairwertung e.V)
As organizações sociais podem colocar containers em pontos pelo município previamente autorizados pela gestão municipal e realizar a coleta deste material. Teoricamente, as roupas velhas fomentam essas instituições e devem fazer doações das roupas que ainda podem ser reutilizadas para a população de baixa renda. Essa doação ocorre diretamente no escritório da instituição. Qualquer cidadão pode ir buscar roupas sem a necessidade de explicação do motivo. Um outra parte das roupas usadas vai parar em países da África onde deveriam ser doadas para a população local como forma de projeto social.
Investigações independentes mostram que este sistema, inicialmente elaborado para ajudar pessoas necessitadas, hoje também alimenta uma indústria bastante lucrativa. Algumas empresas distribuem containers ilegais em terrenos particulares espalhados pela cidade e iniciam um processo que movimenta milhões de euros por ano na Europa. Depois de coletadas, essas roupas que deveriam ser doadas, são vendidas em países da África para empresas locais. As empresas africanas que compram essas roupas passam então a revender por um preço inferior ao praticado pelas fabricantes locais de roupas. Este efeito é responsável pela destruição de todo o setor têxtil de alguns países africanos e consequentemente o aumento de desemprego na produção própria assim como emprego para a revenda de material importado. Levando em consideração que a média de consumo de roupas e calçados na Alemanha é de 12 kg/ano por habitante, são gerados a cada ano no país cerca de 960 mil toneladas desse material.
Algumas empresas se fazem passar por instituições de caridade para atrair mais pessoas. Esse efeito vem sendo estudados por organizações na Alemanha que procuram saber exatamente como este mercado funciona e quais seriam os meios mais eficientes de combater um sistema que tem a origem em questões ambientalmente, socialmente e economicamente corretas a nível nacional, mas que a nível internacional causa uma enorme catástrofe. Muitas vezes, ao contrário do que pensa o doador suas roupas não serão doadas a pessoas necessitadas e sim irão fomentar um negócio que pode causar mais miséria em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. O continente africano importa anualmente mais de 1 bilhão de dólares em roupas e calçados usados. Somente em Uganda são gastos mais de 350 milhões de dólares com importação desse material e milhares de empregos são gerados com este mercado no país. (Jornal Süddeutsche.de 29.05.2009).
Alternativas como a entrega direta nas organizações sociais assim como o incentivo a maior comercialização local destes resíduos nos famosos mercado das bruxas ou mesmo através da internet estão sendo cada vez mais bem aceitos pela população que busca uma solução que considere não somente os três fatores da sustentabilidade local (aspectos sociais, ambientais e econômicos) mas também a questão do efeito global de suas atitudes.
Apesar de gerar polêmica, empresas desenvolvem soluções cada vez mais interessantes para os Pontos de Entrega Voluntárias como mostrado na figura abaixo por profissionais do Portal Resíduos Sólidos em visita a IFAT 2014 em Munique, a maior feira de saneamento ambiental do mundo.
Ano da Publicação: | 2015 |
Fonte: | Portal Resíduos Sólidos |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |