Quando se fala em reciclagem, podemos pensar em muitos produtos confeccionados a partir do reaproveitamento de materiais. Papel, latas de alumínio, peças artesanais e barcos. É isso mesmo: barcos. Há cerca de quatro anos, o engenheiro agrícola holandês Joel Girard, radicado no Brasil desde a década de 80, desenvolveu uma embarcação com garrafas de refrigerante PET. O que no início, era só uma diversão, já que o objetivo era usar o barco em corredeiras de Pernambuco, tomou aos poucos, proporções inimagináveis.
Instruído pelo Sebrae-PE, o engenheiro procurou a API (Associação Pernambucana de Inventores) para patentear seu projeto e lá conheceu Renato Vellozo, presidente da associação que se interessou pelo projeto. Juntos, Joel, Renato e o Sebrae, pensaram em expandir a utilização da técnica que utiliza garrafas pressurizadas e um sistema de amarração bastante evoluído, e verificaram que o método se prestaria muito bem à utilização na pesca.
Renato conta que no começo, a maior dificuldade era vencer o preconceito que as pessoas tinham em utilizar um material descartado. Mas aos poucos, com a aceitação, a técnica foi repassada para as comunidades ribeirinhas. "Hoje o projeto proporciona geração de trabalho e renda na comunidade que vende as embarcações ou mesmo as utiliza para pesca", explica.
O presidente da API contou também que o método usado na confecção dos barcos já é aplicado para a construção de plataformas de pesca e passarelas de acesso na região.
Para Renato, o projeto é um sucesso devido ao seu caráter de geração de renda e de preservação ambiental. "O projeto é atrelado a um programa maior de coleta seletiva", comenta.
Renato avalia que o funcionamento do barco é excelente, já que a manutenção custa pouco e é feita de forma bastante "tranquila". Cada barco utiliza 180 a 1200 garrafas aproximadamente. Depende do tamanho e da finalidade da embarcação. "É um conceito inovador para veículo flutuante. Não acumula água na parte interna. As garrafas são usadas sempre como elemento estrutural. A amarração em módulos absorve impactos e é muito mais resistente do que os barcos de madeira", esclarece.
Mas a idéia não é parar por aí. O projeto está evoluindo e hoje já podem ser construídas até mesmo casas utilizando a técnica. Renato conta que na habitação, as garrafas funcionam mais ou menos como blocos de montar como o Lego (brinquedo que permite a construção de diversos objetos a partir do encaixe de pequenas peças). "Estamos construindo módulos com garrafas PET e caixinhas longa vida".
Renato diz que a casa feita com esse material foi a "sensação" em uma feira de empreendedores em 2002. Entretanto, a API ainda não conseguiu o apoio necessário para desenvolver o projeto.
O interesse do grupo era elaborar uma construção para demonstrar a utilização da técnica, mas faltam verba e apoio. "O que temos por enquanto é um galpão utilitário. O Ipec (Instituto Pernambucano de Ensino e Cultura) analisou e recomendou nosso projeto pelo pacto ambiental e financeiro que ele produz". Entretanto, segundo avalia Renato, por estarmos em ano eleitoral, "as coisas não andam".
Mas ele e os idealizadores do projeto estão bem animados com a possibilidade de estender a utilização da técnica e aplicá-la na construção de moradias populares. "Acreditamos que esse tipo de habitação pode substituir as favelas. Acho que se prestaria também à substituição de casas de taipas evitando o desmatamento e problemas de saúde pública como a doença de Chagas", avalia.
Entretanto, enquanto essa possibilidade não se concretiza, todos continuam empenhados em expandir cada vez mais a utilização do método para a construção de barcos.
O município de Itapissuma, localizado a cerca de 35 quilômetros da capital pernambucana, conta com aproximadamente 20 mil habitantes sendo que 70% da e
Ano da Publicação: | 2004 |
Fonte: | www.reciclaveis .com.br |
Autor: | Rodrigo Imbelloni |
Email do Autor: | rodrigo@web-resol.org |