Uma safra de plástico verde

O plástico aparece numa posição inglória entre os maiores vilões do meio ambiente. Uma garrafa PET, abandonada na natureza, poderá levar um século para se decompor completamente. A produção de objetos plásticos, a partir de derivados do petróleo e do gás natural, também contribui com uma parcela considerável (cerca de 5%) do total de emissões de dióxido de carbono, o CO2, um dos gases causadores do efeito estufa. É necessário plantar 314 000 árvores para neutralizar a emissão de carbono decorrente da produção de 10 milhões de garrafas PET de 2 litros cada uma. Apesar dos danos, o plástico está associado à vida cotidiana. Sua versatilidade, resistência e baixo custo o tornam difícil de substituir. As preocupações com o impacto ambiental, no entanto, estimularam a pesquisa de alternativas.

Na última década, a indústria química deslanchou o desenvolvimento de resinas plásticas derivadas de organismos vivos. O chamado plástico verde, originário de fontes vegetais como a cana-de-açúcar e o milho, começa a ganhar escala comercial e já pode ser encontrado em embalagens de cosméticos, alimentos e bebidas, nas sacolas que acomodam frutas e verduras nos supermercados e até no acabamento interno de automóveis. Na comparação com as resinas feitas de combustíveis fósseis, ele leva vantagem por ser originado de uma fonte renovável e causar impacto positivo na atmosfera, pois a fotossíntese da planta faz a captação do dióxido de carbono.

A cana-de-açúcar brasileira desfruta status privilegiado como insumo do plástico verde. É uma cultura que não compete com áreas destinadas ao plantio de alimentos e é produzida em larga escala. O etanol brasileiro foi a matéria-prima escolhida pela Coca-Cola para o seu projeto global de desenvolver uma garrafa PET com 30% de origem vegetal (a empresa mantém pesquisas para alcançar 100%). A produção da garrafa, lançada em 2010 em nove países – Estados Unidos, Brasil e Japão entre eles -, exige, atualmente, uma complexa logística. A empresa americana compra etanol de usinas brasileiras e envia o combustível para a Ásia, onde é produzido um polímero. Esse polímero é transportado aos países onde as garrafinhas são finalmente feitas, inclusive o Brasil. Em 2010, 2,5 bilhões de embalagens saíram das engarrafadoras com essa tecnologia, reduzindo em 20% o seu impacto da emissão de carbono – o equivalente a 60 000 barris de petróleo. Elas podem ser totalmente recicladas, a exemplo da garrafa PET tradicional, mas ambas não são biodegradáveis. O projeto despertou o interesse de outras empresas. A Coca-Cola vai fornecer 120 milhões de embalagens para a americana Heinz em 2011, que as utilizará para vender seus famosos ketchups.

Atenta a essa demanda internacional, a petroquímica brasileira Braskem investiu 500 milhões de reais para desenvolver uma resina 100% derivada da cana. A fábrica em Triunfo, no Rio Grande do Sul, foi inaugurada em setembro passado. O “polietileno verde”, que serve de insumo para filmes, embalagens e utensílios domésticos, captura 2,5 quilos de dióxido de carbono para cada quilo de resina. Como comparação, para sintetizar o polietileno do petróleo são emitidos 6 quilos de dióxido de carbono. Antes que a fábrica começasse a operar – e apesar do custo 40% superior ao da resina convencional -, multinacionais fecharam contratos de fornecimento, e hoje a demanda supera a capacidade de produção de 200 000 toneladas ao ano (equivalente a 7% da produção total de polietileno da Braskem). Alguns dos clientes são Procter & Gamble, Tetra Pak, Johnson & Johnson, Natura e Toyota. A maior parte é exportada

A necessidade de garantir o abastecimento ajuda a explicar por que o Brasil foi eleito por quem desenvolve biocombustíveis e plásticos derivados da cana. A petrolífera britânica BP e a americana DuPont escolheram Paulínia, no interior paulista, para abrigar o laboratório da Butamax, uma joint venture que formaram para desenvolver um álcool também derivado da cana, o biobutanol.

Os planos preveem que ele seja produzido em larga escala no país para exportação. “As novas tecnologias oferecem uma série de oportunidades de aplicação”, afirma Mario Lindenhayn, presidente no Brasil da divisão da BP para biocombustíveis.

Por trás das decisões das multinacionais de investir no plástico verde estão mudanças globais nos hábitos de compra. Nos países ricos, os consumidores não se importam de pagar um pouco mais caro para comprar um produto que tenha o selo verde. Onde há uma necessidade há também uma oportunidade, reza a velha máxima do mundo dos negócios. Com o plástico verde, o Brasil sai na frente mais uma vez ao oferecer uma alternativa eficiente aos derivados do petróleo.

Ano da Publicação: 2011
Fonte: Internet
Link/URL: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/alternativa-limpa-etanol-brasileiro-materia-prima-veja-625434.shtml
Autor: Rodrigo Imbelloni
Email do Autor: rodrigo@web-resol.org

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